3 de outubro de 2011

Diário de uma grávida hipertensa II

"Os dias passam lentos... aos meses seguem os aumentos..."

No meu caso: ‘aos dias seguem os aumentos de pressão’... Lembro que a primeira noite não foi nada boa. Difícil dormir grávida? Imagine então numa cama alta de hospital, tendo que descer o tempo todo para ir ao banheiro e fazer xixi num pote...
Bom, mas como não sou de ficar reclamando, decidi encarar os dias em alto astral. Mesmo dormindo mal e suando frio por causa dos remédios, procurava acordar bem, mesmo que às 6h da manhã para tirar sangue e pesar, mesmo às 7h para fazer ultrassom ou às 8h para tomar o café da manhã. Enfermeiras a todo instante para aferir pressão, dar remédio... o pessoal do Ana Costa foi sensacional. O trabalho com a saúde pública é realmente uma vocação. Quase um dom. Tem que gostar muito de gente, e gente de todo o tipo. Fora a questão das doenças, desgraças diárias e estudar muito para estar sempre bem atualizado...
Fui tão bem tratada que nem sei como agradecer tantas gentilezas e palavras de conforto e carinho. A equipe médica também me surpreendeu. Médicos jovens, mas seguros e competentes. A maioria muito atenciosa, gastando minutos preciosos para explicar todos os riscos que corríamos, eu e o bebê, para mim e para o Rodrigo. Eles me deixaram muito segura e, mesmo com medo, não tive dúvidas de que eles estavam fazendo o melhor que poderia ser feito naquela situação.

Bom, sobre o resultado dos exames, os dias correram com algumas melhoras, algumas pioras. Pressão subia, pressão baixava. Muita proteína na urina. Ultrassom com variações boas e más do líquido e dos vasos que irrigam o útero. Tensão o tempo todo, sem saber qual seria o dia do parto. Minha amiga querida Renata foi me visitar e comprou as primeiras pecinhas para o enxoval da bebê. Eu não tinha arrumado nada. A Soninha também apareceu para dar um oi e deixar um presentinho. Foi muito bom ver rostos amigos nesses dias. Conversar sobre futilidades. Esquecer um pouco as preocupações... conversei com muitos amigos também pelo telefone... vozes amigas, de pessoas muito queridas, mandando energia boa pra gente.

No domingo, dia 25, recebi as duas melhores visitas da minha vida: a Gabi e a Sol foram me ver. Parecia que o arco-íris tinha entrado no quarto. Como era bom ver aquelas carinhas. Nem eu tinha me dado conta de como eu estava com saudade delas. Meus sogros também foram e foi quase que um piquenique na beira da cama. A Sol curtiu ficar subindo e descendo a cabeceira da cama com o controle e a Gabi queria contar todas as novidades da escola, de casa, cantar, dançar... elas também sentiam minha falta. Era duro ficar longe daquela rotina saudável de casa... Depois que eles foram embora, já combinado que o Ro não voltaria para dormir comigo, para poder levar a Sol na escolinha no dia seguinte, primeiro dia de aula dela, o médico foi até o quarto e pelo tom preocupado da voz dele e pela conversa eu já sabia que, dependendo do resultado da ultrassom da manhã seguinte, o parto seria feito na segunda-feira. Liguei para o Ro e pedi para ele voltar cedo. Precisava dele do meu lado. Ele voltou na mesma noite. O médico conversou com a gente de novo e deixou bem claro toda a gravidade da situação. Há uma linha tênue que separa a vida da morte. Estávamos sobre ela, esperando o melhor momento para seguir nosso caminho...

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