17 de outubro de 2012

Viver é para os fortes...

"Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar"

Canção dos Tamoios - Gonçalves Dias


2011 começou como outro ano qualquer. Só começou. Logo se tornou o ano mais transformador da minha vida. Em abril, descobri que estava grávida. Em agosto, que estava com hipertensão e pré-eclâmpsia. Em setembro, a pequena Luna nasceu.
E pequena não é só figura de linguagem, não. Nasceu pequena mesmo: 970g. Um sopro de vida que se tornou um furacão. Nunca imaginei que um ser tão frágil pudesse demonstrar tanta força, tanta vontade de viver.
Assim que ela nasceu, começou uma grande lição de vida para mim.
Passei por uma delicada intervenção após o parto. Quase perdi o útero. Daí por diante foram 93 dias de um curso intensivo de elevação espiritual. Sem brincadeira, foram dias em que convivi com as mais diversas sensações e sentimentos. Difícil explicar. Luna ficou 93 dias internada numa UTI neonatal. Durante esses dias, cada passo dado, cada passo retornado, cada vitória foi comemorada e compartilhada. Foram tantas orações e pensamentos positivos, até de gente que eu mal conhecia. Vivi dias de luta, mas com o coração cheio de paz.
Quando, enfim, 2011 resolveu terminar, e minha pequena – ainda bem pequena, mas bem mais forte – pode vir pra casa, tudo pareceu entrar nos eixos outra vez. As primeiras semanas foram um pouco tensas, por conta do medo de fazer algo errado, esquecer os horários dos remédios ou dela ter alguma recaída, mas, aos poucos, fomos tomando pé das coisas.
Minha fé, resignação, paciência, e outras tantas ‘virtudes’ que eu nem sabia que tinha, foram testadas dia após dia, desde minha internação, uma semana antes do parto, até meses depois, com ela já em casa, mudando toda nossa rotina, e, de forma mais contundente, a das minhas duas outras filhas: Sol e Gabi.
Três meses depois que Luna chegou em casa, tive que voltar ao trabalho. Completaram-se os seis meses de licença. Por sorte, minha mãe, morando algumas casas depois da minha, pode me ajudar ficando com a pequena.
Mais uma vez, sofremos uma reviravolta. A vida exigiu um pouco mais da minha fé. Minha mãe sofreu um infarto, seguido de três paradas cardíacas e, como que retornando a dias tão doloridos, me vi novamente numa antessala de UTI.
E eu que tinha pensado que os 93 dias mais longos da minha vida já faziam parte do passado, hoje conto três meses e seis dias com minha mãe internada. E a uma distância de 1h30 de carro e a possibilidade de vê-la apenas uma vez por semana. De novo, o sentimento completo de incapacidade frente aos acontecimentos que teimam em marcar minha vida. Não só minha vida, claro. Todos, de alguma maneira, vivemos uma metamorfose.
Passo os dias refletindo sobre tudo o que tem acontecido nos últimos anos e de que forma essas variáveis da vida tem me transformado completamente. O maior aprendizado que tiro disso tudo é a percepção de nossa fragilidade perante essa Força que rege nossas vidas e nossos destinos. Somos um sopro, todos somos pó. Realmente pó. 
Mas ao contrário do que possa parecer, isso não me deprime. Pelo contrário. Tem me tornado mais atenta a tudo e todos que me rodeiam. Esses dois últimos anos têm sido fundamentais para mim. Fortaleceram todos os laços que me unem às outras pessoas e ao meu próprio mundo.
Sigo feliz o caminho que se estende à minha frente. Digo sempre que a tristeza e o mau humor são apenas mais duas bagagens pesadas. Prefiro a leveza do sorriso, o som da risada e a sinceridade do abraço amigo. E, apesar da dor que por vezes me aperta o peito, sou feliz por ter a chance de ascender um degrauzinho a mais no que acredito ser uma vida valorosa e que com alguma razão de ser. =)