26 de outubro de 2011

Um Mês

Hoje é um dia especial. Um dia de comemoração e de muita reflexão.
Hoje, comemoramos o primeiro mês de vida da Luna e, de certa forma, o meu também. Do parto, guardo alguns flashs: minha concentração para ficar acordada, algumas conversas sem sentido, o chorinho da minha pequena, o médico sentado ao meu lado tentando explicar o que tinha dado errado e como ele tinha consertado, e minha 'sorte', e do meu bebê, por termos sobrevivido... Tudo isso parece ter ficado em um passado tão longínquo, que às vezes tenho dúvidas se aconteceram dessa maneira mesmo; ou se aconteceram comigo... Nesses momentos, só tenho certeza do que realmente ficou: um Amor sem-fim pela pequena guerreira que ganhei.
Muitas coisas mudaram nesses últimos 30 dias. Dentro de mim, uma revolução. Quando soube que minha pequena ficaria na UTI assim que nascesse, fiquei tranquila. Sabia que ali ela seria bem cuidada. Os primeiros dias foram de apreensão. Porém, aquele pingo de gente, pesando menos de um quilo, demonstrou tanta coragem e vontade de viver que não tive outra escolha senão me manter forte também.
E, assim, os dias se passaram. Fé e positividade. Resignação e paciência.
Porém, o tempo é senhor, e resolveu nos testar. Diminuiu o ritmo dos dias, que passam cada vez mais lentos. Isso, somado à falta de grandes melhoras no quadro da pequena Luna, tem exigido demais de todos nós. Admito que há dias que me falta ânimo. Quando isso acontece, recorro às outras duas joias da minha vida, Sol e Gabi, a Deus e aos amigos espirituais. Tento estabelecer um equilíbrio para me manter sã. Dias difíceis esses...  família e amigos têm sido como anjos. Sou muito grata por tê-los em minha vida.
Neste 30º dia, enquanto escrevo e espero a hora de ver minha pequena, penso no quanto ela é especial e em toda a transformação que ela trouxe para nossas vidas. Sua coragem e força, diante de tamanho sofrimento... os dias passados na Neo, longe do conforto de casa e do amor e carinho da família. Tantos aparelhos, tantos desconfortos, tantos desconhecidos. E, ainda assim, um desejo imenso de ultrapassar tudo isso. Diante disso, que direito tenho eu de fraquejar?
Sou uma mãe de colo vazio, mas com o coração cheio de Amor, Esperança e Confiança. E por mais que esse tempo tente açoitar minhas convicções e sentimentos, não há nada que ele faça que possa vencer o sentimento que unem mãe e filho.

Brindemos, então, à vida. Esse instante tão raro.

10 de outubro de 2011

Apenas Mais Uma de Amor...


Como escrever sobre o Amor sem ser piegas? Pensei em começar com uma poesia ou com a letra de uma música. Esses são sempre bons inícios para essas coisas do coração. Nos deixam mais inspirados, sei lá... Eu sempre começo minhas cartas pra você assim, né? Mas como essa postagem é pública, queria que, de algum modo, fosse algo tipo 'pessoal e intransferível'. Não queria escrever coisas que coubessem em outras pessoas. Os sentimentos que trago aqui só dizem respeito a nós...

São quase oito anos de convivência. Algumas idas e vindas, desencontros e reencontros. Tentamos repensar nossas vidas separadamente. Não deu. Não dá.
Para muitos, somos um casal 'moderno'. Uma forma diferente de estar juntos. Para nós, somos simplesmente uma família. Sempre fomos. Antes mesmo da Sol chegar. E família 'é quem você escolhe pra você'.
Não é uma escolha fácil. São tantas dúvidas. Acho que a certeza só vem com o tempo. Com a vida. Essa vida que tem nos feito entender o quanto nossa sintonia é fina. Rara. Só nossa.

Descobrimos um pouco mais sobre nós nestes dias de dor, né?

Por detrás daquele cara relaxadão, superdescontraído e fácil de conviver, encontrei em você, ainda, um pai zeloso, comprometido, e um marido tão cuidadoso, que foi capaz de abrir mão de si mesmo para estar ao meu lado, entendendo minhas necessidades, minhas fraquezas e algumas recaídas que tive pelo caminho. Foi meu porto-seguro em todos os momentos.
Não que 'esse cara' não estivesse ali todos esses anos. É que nós, mulheres-mães, costumamos colocar todo mundo debaixo das asas e saimos por aí achando que podemos dar conta de tudo... mea culpa.
... Foi tão reconfortador não precisar ser tão forte o tempo todo...

Obrigada. Apesar de doloroso, todo esse processo tem sido gratificante e tem servido como fonte de transformação em nossas vidas. Não sei ainda quem seremos quando tudo isso acabar, mas creio que seremos pessoas melhores. Mais conscientes, mais amigas, mais atenciosas a tudo o que o Mundo tem para nos oferecer. Seremos melhores pais. Melhores amigos. Melhores amantes. Seremos cúmplices pelo resto da vida desses momentos que foram só nossos e que só servirão para nos tornar ainda mais companheiros.

Hoje entendo melhor o que é o Amor. Vai além do gostar, do tesão, do querer estar juntos. O Amor ultrapassa o sentido da vida... alcança o etéreo... e nos faz sentir tão plenos que, mesmo em meio às ondas mais turbulentas, nos permite seguir, serenos e confiantes, nosso navegar...

Amo-te. Pra sempre.

6 de outubro de 2011

Acretismo

...mais uma palavrinha feia que eu descobri nos últimos dias. Feia e perigosa. Ah, e bastante difícil de acontecer: 1 entre 2.500 mulheres tem placenta acreta. Agora pergunta se na Mega Sena eu acerto? Nem bingo eu ganho. Pois é, mais o tal do acretismo resolveu aparecer na minha vida e foi descoberto durante o parto da Luna, já bem complicadinho por si só.
Bom, segundo a wikipédia, acretismo ou placenta acreta é a "denominação que se dá à placenta que se adere anormalmente à parede uterina. É uma complicação obstétrica grave. A placenta geralmente se despreende da parede uterina de forma relativamente fácil, mas mulheres que possuem acretismo placentário durante o parto possuem um risco maior de hemorragia durante sua remoção. Isso geralmente requer cirurgia para conter o sangramento e remover completamente a placenta. Em formas graves pode frequentemente levar a uma histerectomia ou ser fatal". Assustador, né?
No meu caso, graças aos Céus, a penetração da placenta atingiu apenas uma pequena superfície do útero. E a equipe que me assistia no momento do parto contava com profissionais muito bons. Saldo disso tudo: uma barriga cheia de hematomas e a certeza de quanto minha vida é valiosa!
Uma vez me disseram que se a gente não conseguisse aprender nada com essas 'coisas' que acontecem na nossa vida, então nossa existência não teria valido a pena. Posso dizer com certeza: eu não sou mais a mesma pessoa de um mês atrás. Nunca as pequenas coisas tiveram tanta importância para mim. Coisas simples como tomar Sol, dormir ou acordar ao lado das minhas pequenas, ficar juntinho do meu marido, um leve abrir de olhos da Luna, cada respiro do Mundo tem um valor diferente agora. "O Coração, se pudesse pensar, pararia"

"... considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também" - Fernando Pessoa.


3 de outubro de 2011

Diário de uma grávida hipertensa III

"Não me entrego sem lutar / Tenho, ainda, coração / Não aprendi a me render / Que caia o inimigo então"


A noite passou com certa dificuldade. Acordei na segunda com fome e tomei meu café da manhã antes de ir fazer a ultrassom. Quando voltei, a enfermeira já me aguardava com aquele aventalzinho nas mãos... tinha chegado a hora. Difícil explicar o que senti. Não era medo, mas uma certa tensão. Tentei me concentrar. Controlar a respiração e manter a mente tranquila, como tantas vezes havia feito nas aulas de ioga. Porque será que parecia ser tão fácil?
No caminho até o centro cirúrgico, minha mente ia se preparando para o que viria logo a seguir. Me lembro bem de todos da equipe médica se apresentando e conversando entre eles sobre futilidades do dia-dia. O anestesista demorou para conseguir aplicar a raqui. Eu não estava conseguindo relaxar. Depois de umas tantas tentativas, resolvi deitar no ombro da enfermeira e tentar me concentrar na minha respiração. Deu certo. Depois disso, as pernas adormeceram e comecei a ficar com sono. Não sei dizer quanto tempo se passou, mas pareceu não demorar muito até ouvir o chorinho da Luna. Pela prematuridade, até que o choro era forte. Ouvi alguém dizer quer era 12h20. Todos me olharam felizes, vieram me cumprimentar... que alívio... a partir daí relaxei. O sinal vermelho só voltou a piscar quando o médico sentou do meu lado e começou a falar sobre algum problema que teria acontecido durante o parto, mas que ele havia conseguido resolver fazendo um tipo de ‘suspensório’ para segurar o útero... De novo, informação demais...
Voltei para o quarto, sem entender bem o que estava acontecendo. Eu tava morrendo de fome, era mais de 3 horas da tarde. Tomei o café da tarde com gosto e jantei ainda faminta, às 17h30. Aquela foi a melhor comida sem sal que já comi na vida. A noite, já estava bem disposta para ir ver a Luna. Minha pequena guerreira. Nasceu com 970g... e toneladas de vontade de viver...
Eu ainda não sabia nada sobre acretismo e o risco que havia corrido durante o parto... era um novo capítulo dessa história...

Diário de uma grávida hipertensa II

"Os dias passam lentos... aos meses seguem os aumentos..."

No meu caso: ‘aos dias seguem os aumentos de pressão’... Lembro que a primeira noite não foi nada boa. Difícil dormir grávida? Imagine então numa cama alta de hospital, tendo que descer o tempo todo para ir ao banheiro e fazer xixi num pote...
Bom, mas como não sou de ficar reclamando, decidi encarar os dias em alto astral. Mesmo dormindo mal e suando frio por causa dos remédios, procurava acordar bem, mesmo que às 6h da manhã para tirar sangue e pesar, mesmo às 7h para fazer ultrassom ou às 8h para tomar o café da manhã. Enfermeiras a todo instante para aferir pressão, dar remédio... o pessoal do Ana Costa foi sensacional. O trabalho com a saúde pública é realmente uma vocação. Quase um dom. Tem que gostar muito de gente, e gente de todo o tipo. Fora a questão das doenças, desgraças diárias e estudar muito para estar sempre bem atualizado...
Fui tão bem tratada que nem sei como agradecer tantas gentilezas e palavras de conforto e carinho. A equipe médica também me surpreendeu. Médicos jovens, mas seguros e competentes. A maioria muito atenciosa, gastando minutos preciosos para explicar todos os riscos que corríamos, eu e o bebê, para mim e para o Rodrigo. Eles me deixaram muito segura e, mesmo com medo, não tive dúvidas de que eles estavam fazendo o melhor que poderia ser feito naquela situação.

Bom, sobre o resultado dos exames, os dias correram com algumas melhoras, algumas pioras. Pressão subia, pressão baixava. Muita proteína na urina. Ultrassom com variações boas e más do líquido e dos vasos que irrigam o útero. Tensão o tempo todo, sem saber qual seria o dia do parto. Minha amiga querida Renata foi me visitar e comprou as primeiras pecinhas para o enxoval da bebê. Eu não tinha arrumado nada. A Soninha também apareceu para dar um oi e deixar um presentinho. Foi muito bom ver rostos amigos nesses dias. Conversar sobre futilidades. Esquecer um pouco as preocupações... conversei com muitos amigos também pelo telefone... vozes amigas, de pessoas muito queridas, mandando energia boa pra gente.

No domingo, dia 25, recebi as duas melhores visitas da minha vida: a Gabi e a Sol foram me ver. Parecia que o arco-íris tinha entrado no quarto. Como era bom ver aquelas carinhas. Nem eu tinha me dado conta de como eu estava com saudade delas. Meus sogros também foram e foi quase que um piquenique na beira da cama. A Sol curtiu ficar subindo e descendo a cabeceira da cama com o controle e a Gabi queria contar todas as novidades da escola, de casa, cantar, dançar... elas também sentiam minha falta. Era duro ficar longe daquela rotina saudável de casa... Depois que eles foram embora, já combinado que o Ro não voltaria para dormir comigo, para poder levar a Sol na escolinha no dia seguinte, primeiro dia de aula dela, o médico foi até o quarto e pelo tom preocupado da voz dele e pela conversa eu já sabia que, dependendo do resultado da ultrassom da manhã seguinte, o parto seria feito na segunda-feira. Liguei para o Ro e pedi para ele voltar cedo. Precisava dele do meu lado. Ele voltou na mesma noite. O médico conversou com a gente de novo e deixou bem claro toda a gravidade da situação. Há uma linha tênue que separa a vida da morte. Estávamos sobre ela, esperando o melhor momento para seguir nosso caminho...

Diário de uma grávida hipertensa I

21/09/2011 - O Começo de tudo

Era para ser uma consulta normal e rápida de pré-natal. Saímos (Ro e eu) de Bertioga levando a Sol à tiracolo. A babá havia pedido demissão um dia antes e, para não sobrecarregar minha mãe, decidi levar a pequena com a gente para Santos. Mal sabia eu que o dia renderia e eu só voltaria para casa uma semana depois.

Cheguei cedo ao consultório e logo fui atendida. Quando passei pela porta da sala da médica percebi nela um semblante de preocupação. Eu estava inchada e com olheiras. Sinais nada bons para uma grávida. Depois dos exames de praxe, incluindo uma aferição de pressão (alta, por sinal), ela foi direto ao ponto: “você não volta mais para Bertioga até o final da gravidez”. E enquanto ela ia falando sobre o resultado dos meus exames (o de proteinúria tinha dado positivo e a ultrassom apontava um ‘aumento da resistência da artéria uterina direita com incisura protodiastólica’) e explicando os riscos que eu corria com a pressão daquele jeito, eu ia imaginando tudo o que deixei pra trás sem solução: a Gabi sem explicações, trabalhos inacabados, escolinha para a Sol, minha mãe preocupada, enxoval sem comprar, quarto sem arrumar... voltei para a realidade quando ela me disse que, caso acontecesse algum problema com meu plano de saúde, ela me internaria no Guilherme Álvaro, um hospital público que é referência em gestações de risco. Foi, então, que surgiu essa palavrinha: RISCO. E eu me dei conta de que não era um simples problema de pressão alta. O negócio era sério. Ela pediu pra chamar o Rodrigo e conversou com ele. Explicou tudo e deixou bem claro que eu não voltaria para Bertioga com aquele quadro, pois não haveria chance de vida para o bebê e eu correria grandes riscos.

Confesso que não foi fácil assimilar tudo isso de uma vez. Achava que a culpa era minha, mas sabia que estava fazendo todo o possível para me cuidar e cuidar do bebê. A dieta hipossódica, grandes períodos de descanso e os remédios nos horários certos, inclusive os da madrugada... tudo estava sendo feito, mas nada da bendita abaixar.

Bom, como não havia outro remédio, resolvi aceitar ‘a parte que me cabe deste latifúndio’ e partir para a luta. Corremos para o hospital Ana Costa e, depois de alguns exames, fiquei internada novamente. A Solzinha se comportou super bem, esperou eu terminar tudo e ir para o quarto com a maior das paciências possíveis a uma criança sapeca de 2 anos.

Meu marido foi fantástico, por isso merece uma postagem especial só sobre ele...rsrs. Verdade: não é fácil segurar a barra e ainda resolver todos os problemas de casa que eu havia deixado pra trás. Assim, resumindo este dia de fortes emoções na minha vida, fiquei internada com a pressão alta e a certeza de que não demoraria muito para conhecer o rostinho da minha filhinha, para quem nem o nome havia sido escolhido ainda... afe!

Sob Pressão

Nas últimas semanas descobri o que é viver sob pressão. Descobri também que, na gravidez, hipertensão é sintoma de uma ‘doença’ que tem um nome feio que só: eclampsia. Por conta dela, a partir da 25ª semana de gravidez, passei por dias tensos, recheados de elevações rápidas de pressão, edemas nos pés e rosto, algumas dores de cabeça e idas e vindas ao médico. Todos esses sintomas juntos me custaram uma internação de três dias no final de agosto. Porém, apesar da pressão alta constante (14x10 virou rotina), os exames não apontaram nenhum problema. Tudo negativo. Com a alta do hospital, voltamos para casa com uma pontinha de preocupação, mas confiantes de que era apenas uma crise de hipertensão.

Não que fosse fácil aceitar esse diagnóstico. É duro ter que aceitar uma doença sem saber direito de onde veio, para onde vai. Eu nunca tive pressão alta na minha vida. Muito pelo contrário. Sempre me gabei de ter escapado da ‘genética’ familiar que já obrigou meus irmãos a fazerem uso de remédios contínuos, faz minha mãe travar lutas diárias de um sobe e desce de pressão sem fim, e por anos perseguiu meu pai, que era cardiopata e que morreu aos 67 anos por conta de um infarto.
Eu, por minha vez, aos 35, tinha como doença mais grave em meu prontuário uma pequena cirurgia de varizes. Fora isso, duas gravidezes bem saudáveis – uma normal, outra cesária (e por conta do mau posicionamento do cordão umbilical) -, atividade física frequente, alimentação relativamente saudável e um estado de espírito tão zen que até irritava algumas pessoas...rsrs. E, então, do nada, no meio desta terceira gestação, surgiu a hipertensão na minha vida. Mas que já tá avisada: bora arrumar as malas, que aqui não é seu lugar...