10 de dezembro de 2010

Hoje é dia de Clarice

Meu amigo Geraldo sempre chega na sala com uma novidade. Informação ou questionamento, o fato é que ele sempre espera por um embate. Hoje apareceu me perguntando sobre partidos políticos.
- Você é filiada? Já pensou em se filiar? Gosta de algum partido em especial?...
E eu, tentando terminar um release chato, fazia um certo esforço para pensar sobre o assunto antes de responder. Não deu tempo. A boca foi mais rápida do que o cérebro. Disse: "não". E ele insistiu: - Mas uma pessoa inteligente como você! Nem do exterior? Não acredito! E eu: "Acho que você superestima minha inteligência". E foi tudo o que consegui responder, pensando em mim como uma fraude... afinal, não passo de uma pessoa normal, que tem curiosidade em conhecer sobre assuntos diversos e que, por isso, virou jornalista. E acabou numa assessoria de imprensa fazendo releases chatos... Como é que eu poderia conhecer partidos da Holanda, Itália, França... mal conheço a história dos nossos. Talvez, por isso, a falta de interesse em me filiar.
Tentei deixar o assunto no ar. Meio sem resposta. Pra outro dia.
E, que bom!, no meio dessa nossa discussãozinha, apareceu um assunto mais interessante. Pelo menos para mim: Hoje era dia de Clarice. A Lispector.
Aniversário de nascimento de uma das escritoras mais criativas que eu já li (e olha que, apesar de me considerar uma fraude, já li muita coisa!!). Ontem, dia 9, foi aniversário de morte dela. Porém, prefiro comemorar a vida! Como diz no blog dela: "Clarice respira em cada um de nós, à medida que nos faz sentir"...
E é o sentir o que mais me chama atenção nas obras dela. Como alguém pode descrever sentimentos tão profundamente? Às vezes, não consigo colocar no papel coisas tão simples, de um cotidiano por vezes tão inóspito. Faltam palavras. Criatividade... E aí vem ela, com coisas assim: 'Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro'. Ou então:  'Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida'. Por isso ela é Clarice. E eu... bom, deixa pra lá... rs. Ao meu alcance, apenas a possibilidade de ajudar a espalhar um pouquinho dela por quem por aqui passar. E agradecer ao Geraldo, por fazer eu respirar um pouco mais neste dia!

Já que há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas

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