Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar"
Canção dos Tamoios - Gonçalves Dias
2011 começou como outro ano qualquer. Só começou. Logo se
tornou o ano mais transformador da minha vida. Em abril, descobri que estava
grávida. Em agosto, que estava com hipertensão e pré-eclâmpsia. Em setembro, a
pequena Luna nasceu.
E pequena não é só figura de linguagem, não. Nasceu pequena
mesmo: 970g. Um sopro de vida que se tornou um furacão. Nunca imaginei que um
ser tão frágil pudesse demonstrar tanta força, tanta vontade de viver.
Assim que ela nasceu, começou uma grande lição de vida para
mim.
Passei por uma delicada intervenção após o parto. Quase
perdi o útero. Daí por diante foram 93 dias de um curso intensivo de elevação
espiritual. Sem brincadeira, foram dias em que convivi com as mais diversas
sensações e sentimentos. Difícil explicar. Luna ficou 93 dias internada numa
UTI neonatal. Durante esses dias, cada passo dado, cada passo retornado, cada
vitória foi comemorada e compartilhada. Foram tantas orações e pensamentos
positivos, até de gente que eu mal conhecia. Vivi dias de luta, mas com o
coração cheio de paz.
Quando, enfim, 2011 resolveu terminar, e minha pequena –
ainda bem pequena, mas bem mais forte – pode vir pra casa, tudo pareceu entrar
nos eixos outra vez. As primeiras semanas foram um pouco tensas, por conta do
medo de fazer algo errado, esquecer os horários dos remédios ou dela ter alguma
recaída, mas, aos poucos, fomos tomando pé das coisas.
Minha fé, resignação, paciência, e outras tantas ‘virtudes’
que eu nem sabia que tinha, foram testadas dia após dia, desde minha
internação, uma semana antes do parto, até meses depois, com ela já em casa,
mudando toda nossa rotina, e, de forma mais contundente, a das minhas duas
outras filhas: Sol e Gabi.
Três meses depois que Luna chegou em casa, tive que voltar
ao trabalho. Completaram-se os seis meses de licença. Por sorte, minha mãe,
morando algumas casas depois da minha, pode me ajudar ficando com a pequena.
Mais uma vez, sofremos uma reviravolta. A vida exigiu um
pouco mais da minha fé. Minha mãe sofreu um infarto, seguido de três paradas
cardíacas e, como que retornando a dias tão doloridos, me vi novamente numa antessala
de UTI.
E eu que tinha pensado que os 93 dias mais longos da minha
vida já faziam parte do passado, hoje conto três meses e seis dias com minha
mãe internada. E a uma distância de 1h30 de carro e a possibilidade de vê-la
apenas uma vez por semana. De novo, o sentimento completo de incapacidade
frente aos acontecimentos que teimam em marcar minha vida. Não só minha vida,
claro. Todos, de alguma maneira, vivemos uma metamorfose.
Passo os dias refletindo sobre tudo o que tem acontecido nos
últimos anos e de que forma essas variáveis da vida tem me transformado
completamente. O maior aprendizado que tiro disso tudo é a percepção de nossa
fragilidade perante essa Força que rege nossas vidas e nossos destinos. Somos
um sopro, todos somos pó. Realmente pó.
Mas ao contrário do que possa parecer, isso não me deprime.
Pelo contrário. Tem me tornado mais atenta a tudo e todos que me rodeiam. Esses
dois últimos anos têm sido fundamentais para mim. Fortaleceram todos os laços
que me unem às outras pessoas e ao meu próprio mundo.
Sigo feliz o caminho que se estende à minha frente. Digo
sempre que a tristeza e o mau humor são apenas mais duas bagagens pesadas.
Prefiro a leveza do sorriso, o som da risada e a sinceridade do abraço amigo.
E, apesar da dor que por vezes me aperta o peito, sou feliz por ter a chance de
ascender um degrauzinho a mais no que acredito ser uma vida valorosa e que com
alguma razão de ser. =)